A escrita de um homem só

“Tu usas a imaginação para completar as lacunas da tua vida, prover explicações para as coisas que não entendes, traçar caminhos, entender o passado.”

Que deleite poder ler esta biografia de Moacyr Scliar, faziam 5 anos que ela estava aqui na estante e sempre postergava a leitura. O livro me encantou por ser escrito em capítulos bem diferentes entre si, o que confere à obra uma cadência de leitura muito fluída e dinâmica. O primeiro capítulo, denominado diálogos é uma entrevista em que o autor fala do processo criativo, da leitura no Brasil, sobre a Academia Brasileira de Letras, foram as respostas sobre esta temática que mais me encantaram, descobrir que um autor que eu já admirava pela obra também tinha ressentimento pelo fato de Mário Quintana não ter sido eleito foi digamos, reconfortante, e a admissão pública de que aceitou concorrer a uma vaga na ABL por pressão, por causa do movimento para colocar um gaúcho lá, fez com que eu o admirasse ainda mais. Entendemos também a influência de sua carreira de médico em sua vida pessoal e em sua escrita.

"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".

O segundo capitulo é um linha do tempo sobre a vida e as principais obras e prêmios de Scliar onde podemos conferir que o judaísmo representou um papel muito importante na obra dele. O terceiro capítulo é um ensaio entitulado Moacyr Scliar: tradição e renovação, escrito pelo Dr. Flávio Loureiro Chaves.

O capítulo 4 é a bibliografia do autor e sobre o autor e caramba ela dá uma dimensão exata do quão prolífico Moacyr Scliar é. são mais de 80 livros publicados entre contos, crônicas, ensaios, romances e infanto-juvenis. O capítulo 5 traz uma amostra do talento do escritor em três ótimos contos e o livro se encerra com depoimentos sobre o autor no capítulo 6, dentre os quais o mais emocionante e pungente é o de seu filho, Beto Scliar:

“Nunca entendi direito porque na escola todos se impressionavam quando falavam de Moacyr Scliar. Pra mim ele era simplesmente uma pessoa normal com um trabalho normal.

Ao longo dos anos, comecei a acompanhar silenciosamente o trabalho desse cara, às vezes médico. Comecei a entender a importância do Doutor Moacyr todas as vezes que eu ficava doente.

O Moacyr escritor veio ainda na época de colégio, quando eram obrigatórios os livros dele, aí descobri o Moacyr escritor, com O tio que flutuava. Foi nesse momento que aprendi a gostar de literatura.

O Moacyr da coluna semanal no jornal descobri aos poucos pelos comentários diários vindos de pessoas diferentes, que nem conhecia… Seus textos traziam denúncias, dicas de saúde e vários textos engraçados para divertir seus leitores.

Hoje parei para pensar… este Moacyr… é o meu pai!”

Moacyr Scliar: A escrita de um homem só. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006. (Coleção Autores Gaúchos)

Esta leitura é a segunda dentro da temática Biografias e/ou Memórias que corresponde ao mês de fevereiro do Desafio Literário.

Uma opinião sobre “A escrita de um homem só

  • 7 de fevereiro de 2011 em 16:03
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    O bom desde desafio é podermos conhecer a imensidão de livros que poderíamos ler e deixamos passar, por simples preguiça. Pena nunca ter lido nada de Moacyr Scliar, mas ele está em destaque entre nossos escritores e merece ser lido. Muito bom seu post e sua resenha detalhada,obrigada pela dica de leitura.Bjs

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    • 8 de fevereiro de 2011 em 16:13
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      Olá Mônica, concordo contigo que a riqueza do desafio reside justamente na possibilidade de ampliarmos ainda mais nossos horizontes literários. Se tiveres oportunidade leia algum livro do Scliar ele é um escritor primoroso, e indo mais além te indico a excelente obra: “A mulher que escreveu a Bíblia”.
      estrelinhas coloridas…

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  • 8 de fevereiro de 2011 em 12:15
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    Ei Mi,

    Eu nunca gostei muito de biografias, mas acho que é falta de costume mesmo. Achei seu texto muito interessante :0

    P.S: Ah que legal que vc conhece as cidades, os contos dele são muito legais. Da uma olhada naquele outro que eu deixei o link no blog, o que foi publicado no Sobre Livros. 🙂

    bjo

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    • 8 de fevereiro de 2011 em 16:16
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      Oi Nanda! Já eu adoro uma biografia hehehehehe… báh me interessei mesmo pelo livro, vou ler com certeza e vou conferir esse outro também, obrigada pelas dicas.
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
  • 8 de fevereiro de 2011 em 23:50
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    Moacyr é fantástico. Admiro-o demais como escritor e também o tanto (ou pouco) que conheço dele como pessoa.
    Ah, saudades de conversar contigo, sabe… Abraços grandes!

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    • 17 de fevereiro de 2011 em 17:26
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      Ah eu conheci um pouco mais dele nesta biografia e fiquei ainda mais encantada. Saudades de ti também 🙂
      estrelinhas coloridas…

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  • 9 de fevereiro de 2011 em 17:31
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    Não conhecia esse livro, vai para lista não sei muito sobre ele, legal e concordo com a posição dele sobre Mário Quintana.

    O Desafio esta muito rico né?

    🙂

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    • 17 de fevereiro de 2011 em 17:27
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      O Desafio está mesmo uma riqueza, descobri tanto livro e tanto blog legal que nem sei como faço hehehehehe
      Confere mesmo essa biografia é muito legal 🙂
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
  • 10 de fevereiro de 2011 em 00:43
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    Ai que lindo! Sou admiradora do Moacyr. Sendo de quem, o conteúdo dever ser ouro puro.

    Beijocas

    Resposta
    • 17 de fevereiro de 2011 em 17:29
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      Ah Vivi é mesmo uma preciosidade, é tão bom ler sobre o processo criativo e a visão de mundo dele, passei a gostar ainda mais dele.
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
  • 13 de fevereiro de 2011 em 20:56
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    Parabéns pela resenha e por destacar um autor tão importante para a nossa literatura.

    Abs, Rê

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    • 17 de fevereiro de 2011 em 17:31
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      Olá Rê!
      Obrigada pela visita e pelo comentário 🙂
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
  • 22 de fevereiro de 2011 em 23:34
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    Oi Mi,
    Queria ter essa disposição para ler biografias, mas não consigo!!
    Beijos
    Camila – Leitora Compulsiva

    Resposta
    • 27 de fevereiro de 2011 em 11:02
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      Oi Camila, tu não gostas de biografias nem de pessoas que tu admiras? Eu adoro, principalmente de escritores, tenho verdadeiro fascínio em conhecer a pessoa por trás do autor e como é o processo criativo.
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
      • 28 de fevereiro de 2011 em 10:07
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        Nem assim… Por mais que eu admire o trabalho de alguém, não me interesso em ler sobre a vida da pessoa!! Tenho medo de me decepcionar… rs!
        Beijos
        Camila – Leitora Compulsiva

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        • 4 de março de 2011 em 07:55
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          Ah dependendo de quem é, ler a biografia é decepção na certa hehehehe… Eu me decepcionei um pouco com a biografia do Nelson Mandela, mas enfim somos todos apenas humanos.
          estrelinhas coloridas…

          Resposta
  • 25 de fevereiro de 2011 em 11:52
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    Vou confessar uma coisa, eu não gosto muito das crônicas dele na ZH, e por isso nunca me interessei em ler nenhum dos livros dele. Mas sua resenha me deixou com um gostinho de quero mais e talvez eu procure algo dele para ler…

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    • 27 de fevereiro de 2011 em 11:05
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      Dani as crônicas dele na ZH também não me cativam tanto, gosto muito dele como romancista, se quiseres te aventuras recomendo que leias “A mulher que escreveu a bíblia” um dos melhores livros que já li. 🙂
      estrelinhas coloridas…

      Resposta
  • 25 de fevereiro de 2011 em 19:33
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    NUnca li nada do autor, e olha que ouço bastante gente falar dele, vou ter que compensar isso. Otima escolha e resenha!

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    • 27 de fevereiro de 2011 em 11:08
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      Olá Kezia!
      Quando preciso indicar um livro dele sempre falo de “A mulher que escreveu a bíblia”, é o meu preferido, então quando fores ler algo dele fica a minha sugestão de leitura.
      estrelinhas coloridas…

      Resposta

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